terça-feira, 31 de julho de 2007

Victor Hugo em "Os Miseráveis".

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Nunca devemos ter medo de ladrões ou assassinos. São perigos externos e os menores que existem.

Temamos a nós mesmos.

Os preconceitos é que são os ladrões; os vícios é que são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importância tem aquele que ameaça a nossa vida ou a nossa fortuna? Preocupemo-nos com o que põe em perigo a nossa alma.


terça-feira, 24 de julho de 2007

No lar de crianças pobres de Calcutá, na Índia há um texto afixado no muro que afirma o seguinte:

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As pessoas são irracionais, ilógicas e egocêntricas.
Ame-as mesmo assim!

Se você têm sucesso nas sua realizações, ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Tenha sucesso mesmo assim!

O bem que você faz será esquecido amanhã.
Faça o bem mesmo assim!

A honestidade e a franqueza o tornam vulnerável.
Seja honesto e franco mesmo assim!

Aquilo que você levou anos para construir pode ser destruído de um dia para outro.
Construa mesmo assim!

Os pobres têm verdadeiramente necessidade de ajuda, mas alguns podem atacá-lo se você ajudar.
Ajude-os mesmo assim!

Se você der ao mundo o melhor de si mesmo, você corre o risco de se machucar.
Dê o que você tem de melhor...Mesmo assim!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

TRAGÉDIA.

Mário Quintana. Gaúcho de Porto Alegre.

A nossa vida nunca chega ao fim. Isto é, nunca termina no fim.

É como se alguém estivesse lendo um romance e achasse o enredo enfadonho e, interrompendo, com um bocejo, a leitura, fechasse o livro e o guardasse na estante. E deixasse o herói, os comparsas, as ações, os gestos, tudo ali, esperando, esperando...

Como naquele jogo a que chamavam brincar de estátua.

Como num filme que parou de súbito.

Um esboço do mundo.

Jorge Luis Borges - aos 67 anos de idade

Um homem se propõe a tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas.

Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem do seu rosto.

ACOSTUMAR-SE

Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.


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Perseverança.

Victor Hugo em "Os Trabalhadores do Mar" - tradução de Machado de Assis - Editora Nova Alexandria.


Quem ama quer, e aquele que quer relampeja e cintila. A resolução enche os olhos de fogo; admirável fogo que se compõe da combustão de pensamentos tímidos.

Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem um assomo, que é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quase todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: perseverando.

A perservança está para a coragem como a roda para a alavanca; é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo; no primeiro caso, é Colombo, no segundo caso, é Jesus.

Insensata é a cruz; vem daí a sua glória. Não deixar discutir a consciência, nem desarmar a vontade, é assim que obtêm o sofrimento e o triunfo. Na ordem dos fatos morais o cair não exclui o pairar. Da queda sai a ascensão.

Os medíocres deixam-se perder pelo obstáculo especioso; não são assim os fortes. Perecer é o talvez dos fortes, conquistar é a certeza deles. Podes dar a Estevão todas as boas razões para que ele não se faça apedrejar. O desdém das objeções razoáveis cria a sublime vitória vencida que se chama o martírio.

Victor Hugo em "Os Trabalhadores do Mar" - tradução de Machado de Assis - Editora Nova Alexandria.